O que a mulher não deve ser


O que é que a Bíblia ensina sobre as mulheres assumirem a liderança da Igreja?

A liderança da igreja foi entregue pelo Senhor Jesus e pelos Seus apóstolos a homens cristãos qualificados. E este padrão, claramente encontrado na Bíblia,
vale como norma para nossos dias, pois baseia-se em princípios teológicos e não culturais.
  1. Embora mulheres tenham sido juízas e profetisas (Jz 4:4; 2Re 22:14) em Israel nunca foram ungidas, consagradas e ordenadas como sacerdotisas, para cuidar do serviço sagrado, das coisas de Deus, conduzir o culto no templo e ensinar o povo de Deus, que eram as funções do sacerdote (Ml 2:7). Encontramos profetisas no Novo Testamento, como as filhas de Felipe (Act 21:9; 1Co 11:5), mas não encontramos sacerdotisas, isto é, presbíteras, pastoras, bispas, apóstolas. Apelar à Débora e Hulda, prova somente que Deus pode usar mulheres para falar ao seu povo. Não prova que elas tenham que ser ordenadas.

  2.  Alguns argumentam que Jesus não escolheu mulheres para apóstolas porque Ele não queria escandalizar a sociedade machista da sua época. Será? O Senhor Jesus rompeu com vários paradigmas culturais da sua época. Ele falou com mulheres (Jo 8:10-11), inclusive com samaritanas (Jo 4:7), quebrou o sábado (Jo 5:18), as leis da dieta religiosa dos judeus (Mt 7:2), relacionou-se com gentios (Mt 4:15). Se ele achasse que era a coisa certa a fazer, certamente teria escolhido mulheres para constar entre os doze apóstolos que nomeou. Mas, não o fez, apesar de ter em sua companhia mulheres que o seguiam e serviam, como Maria Madalena, Marta e Maria sua irmã (Lc 8:1-2).

  3.  Também que os apóstolos, por sua vez, quando tiveram ocasião de incluir uma mulher no círculo apostólico em lugar de Judas, escolheram um homem, Matias (Act 1:26), mesmo que houvesse mulheres proeminentes na assembleia, como a própria Maria, mãe de Jesus (Act 1:14-15) – que escolha mais lógica do que ela? E mais tarde, quando resolveram criar um grupo que cuidasse das viúvas da igreja, determinaram que fossem escolhidos sete homens, quando o natural e cultural seria supor que as viúvas seriam mais bem atendidas por outras mulheres (Actos 6:1-7).

  4.  Nas instruções que deram às igrejas sobre presbíteros e diáconos, os apóstolos determinaram que eles deveriam ser marido de uma só mulher e deveriam governar bem a casa deles – obviamente eles tinham em mente homens cristãos (1Tm 3:2,12; Tt 1:6) e não mulheres, ainda que capazes, piedosas e dedicadas. E mesmo que reconhecessem o importante e crucial papel da mulher cristã no bom andamento das igrejas, não as colocaram na liderança das comunidades, proibindo que elas ensinassem com a autoridade que era própria do homem (1Tm 2:12), que participassem na inquirição dos profetas, o que poderia levar à aparência de que estavam exercendo autoridade sobre o homem (1Co 14:29-35). Eles também estabeleceram que o homem é o cabeça da mulher (1Co 11:3; Ef 5:23), uma analogia que claramente atribui ao homem o papel de liderança.

  5.  Também argumentam que nenhuma das passagens citadas anteriormente se aplica hoje, pois são culturais. Mas, será, que estas orientações foram resultado da influência da cultura patriarcalista e machista daquela época nos autores bíblicos? Tomemos Paulo, por exemplo. Será que ele era mesmo um machista, que tinha problemas com as mulheres e suspeitava que elas viviam constantemente tramando para assumir a liderança das igrejas que ele fundou? Será que um machista deste tipo diria que as mulheres têm direito ao seu próprio marido, que elas têm direitos sexuais iguais ao homem, bem como o direito de separar-se quando o marido resolve abandoná-la? (1Co 7:2-4,15) Um machista determinaria que os homens deveriam amar a própria esposa como amavam a si mesmos? (Ef 5:28,33). Um machista referir-se-ia a uma mulher admitindo que ela tinha sido sua protectora, como Paulo o faz com Febe (Rm 16:1-2)?

  6. Agora, se Paulo foi realmente influenciado pela cultura de sua época ao proibir as mulheres de assumir a liderança das igrejas, o que me impede de pensar que a mesma coisa aconteceu quando ele ensinou, por exemplo, que o homossexualismo é uma distorção da natureza acarretada pelo abandono de Deus (Rm 1:24-28) e que os sodomitas e efeminados não herdarão o Reino de Deus (1Co 6:9-11)? Estas passagens também devem ser culturais e se Paulo vivesse hoje teria outra opinião sobre a homossexualidade?

  7. Paulo argumenta que o homem é o cabeça da mulher a partir de um encadeamento hierárquico que tem início em Deus Pai, descendo pelo Filho, pelo homem e chegando até a mulher (1Co 11:3). Este argumento me parece bem teológico, como aquele que faz uma analogia entre marido e mulher e Cristo e a igreja, “o marido é o cabeça da mulher como Cristo é o cabeça da igreja” (Ef 5:23). Não consigo imaginar uma analogia mais teológica do que esta para estabelecer a liderança masculina. E quando Paulo restringe a participação da mulher no ensino com autoridade – que é próprio do homem – argumenta a partir do relato da criação e da queda (1Tm 2:12-14).

  8.  Defender que a aplicação do ensino bíblico depende da época em que vivemos é afirmar que a Bíblia é um livro culturalmente condicionado e só devemos aplicar aquelas partes que estão em harmonia e consenso com nossa própria cultura. É considerar que a Bíblia é retrógrada e ultrapassada e que o modelo de liderança que ela ensina não serve de paradigma para a liderança moderna da Igreja de Cristo.

Quando se chega a este nível, então, para mim, a porta está aberta para a entrada de qualquer coisa que seja aceitável na nossa cultura, mesmo que seja condenada nas Escrituras. Como se poderá responder biblicamente aos jovens crentes que disserem que o casamento está ultrapassado e que sexo antes do casamento é normal e mesmo o relacionamento homossexual? Como é que se pode orientar biblicamente aquele casal que acha normal terem casos fora do casamento, desde que estejam de acordo entre eles, e que acham que adultério é alguma coisa do passado?

Na realidade esse pensamento é também popularizado por seminários de denominações tradicionais e professores da Bíblia que passaram a questionar a infalibilidade das Escrituras, utilizando o método histórico crítico, ensinando em sala de aula que Paulo e os demais autores do Novo Testamento foram influenciados pela visão patriarcal e machista do mundo da sua época. Só podia dar nisso... no momento em que os pastores, presbíteros e as próprias igrejas relativizam o ensino das Escrituras, considerando-o preso ao séc. I e irremediavelmente condicionado à visão de mundo antigo, a igreja perde o referencial, o parâmetro, o norte, o prumo – e como ninguém vive sem estas coisas, elege a cultura como guia.

Augustus Nicodemos
(excerto de artigo)
Publicado no jornal Jubilai
Ano XXI, Número 82
3 junho 2018

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